terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Relatório da Viagem de Manaus para Belém


Aventura pouca é besteira.

Dia 30 de janeiro, chego ao porto de Manaus às 11h. A partida deverá ocorrer às 12h. João Pedro me acompanha ajudando com a bagagem e força moral, afinal agora estarei só. Dá um friozinho na barriga.
Ao tentarmos entrar na área onde se embarca recebemos a notícia: O Barco 11 de Maio não sairá mais.
Na verdade, este barco deveria ter saído de Manaus na sexta-feira e não no sábado. Nos disseram que houve uns “probleminhas”, mas que no sábado estaria tudo Ok. Ok que nada! O barco quebrou, que dizer, apenas a máquina do barco quebrou. Outro barco somente na quarta-feira, chegando em Belém, na sexta.
Aqui no porto de Manaus a coisa funciona assim: azar de quem tem azar, ou espera quarta, sendo que tinha mais um concurso na cidade e os leitos estavam todos ocupados, em resumo, não tinha onde ficar; ou faz o que eu e muitos turistas brasileiros e estrangeiros fizeram. Pegamos o bilhete para a primeira cidade que apareceu no mapa no caminho para Belém, no caso, Santarém.
O barco “Lírio do Mar”, que de lírio não tinha nada, deveria sair às 12 horas. E me fui para Santarém em pleno líricamente... Quer dizer, achei que iria e que seria assim.
Entrei no barco, João Pedro me auxiliou com a rede, nos despedimos e esperei. Mais redes sendo colocadas, espera, mais redes, espera e o Lírio não se mexia. O barco cada vez mais lotado.
Resolvi dar uma volta no andar superior. Ufa! Lugar, gente calma, tranquilidade. Mudei para lá. Abri uma lata de sardinha, uns pãezinhos e água mineral, foi meu almoço. Depois, maçã e bergamota, que aqui chamam de tangerina.
Neste local tinha um casal de gregos que falavam espanhol, totalmente sem provisões de água. Alertei que deveriam comer algo salgado e não beber a água do barco. Como ficamos até às 14 horas no segundo porto do gande porto de Manaus, saíram e compraram água. Agradeceram.
Pensei: o que vou fazer em Santarém, para onde ir, quanto tempo, como sair... Dúvidas e mais dúvidas. Mas, achei que estava bem naquele lugar.
O casal grego também estaria naquele barco quebrado, também iriam para Belém. Quem sabe não tem mais gente perdida por ai?
Os planos eram o seguinte: sábado, 30, saímos de Manaus, chegaríamos na madrugada de segunda, primeiro de fevereiro, em Santarém. Permaneceríamos e dormiríamos no barco e na manhã de terça, outro barco para Macapá e de lá para Belém.
Observação: não haveria nenhum barco antes de sexta-feira de Santarém para Belém. Que tal?
Então, afora os planos, o barco, que deveria sair às 12 horas, ficou até às 15:30, daí partimos para o “posto de gasolina fluvial”.
Caiu o maior toró, fecharam as lonas, esfriou.
O pessoal da região achando tudo normal, o atraso, a parada para combustível, a chuva. O olhar dos “estrangeiros da região”, incluindo aí os brasileiros e de outras nações, era de espanto.
Com o tempo assim, não há muito o que fazer a não ser deitar na rede e aguardar.
Mais meia hora se passa e nada, estamos parados, agora mo “posto”. E a chuva chove, e como!!!
Descobrimos que o andar superior era um bar. Tudo bem ser um bar, nada contra. As pessoas entram entre as redes e compram salgadinhos, sanduíches, cerveja, refrigerante. Mais pro final tinha uns bancos, então, é claro, pensamos, elas iriam para lá. E foram. O problema não era a quantidade de pessoas e sim o som, que aqui se escuta no Mais Alto Nível. E a música é brega!!!
Sabe do que mais sinto falta nessas andanças todas? Um papo amigo. Alguém pra falar com calma, se jogar na conversa.
Chegou 16:30 e o barco parado. A chuva se foi, está nublado, o vento e o frio diminuíram.
Tudo bem ficar parada aqui, deitada na rede, escutando música brega/caipira. Estou no Rio Negro (ainda), a rede balança, estou em paz, então estou bem.
Tanto faz se o barco anda ou não. Tanto faz.
17:30 – o barco partiu.

A noite foi mau dormida, ao lado um ser espaçoso e lá pelas 4 horas ligou o celular naquelas musiquinhas...
Tomei café da manhã com Marcelo, um rapaz mineiro que conheci no barco, mais um que ia para Belém. Café com leite, urg! Descobrimos que no primeiro andar, na cozinha, tinha café preto. Mais pão e manteiga, um manjar dos deuses.
Passo a manhã com calafrio e isso não é nada bom. Choveu a noite toda, o sol tenta se chegar, mas as nuvens são tinhosas.
A limpeza do barco deixa a desejar. O pessoal daqui é mais individualista e ainda tem um francês falando espanhol e dizendo que lá na Europa “os macacos” deveriam ir embora, “não prestam pra nada”. Que todo brasileiro na França é bandido e ladrão. O que ele faz aqui?!

Durante o trajeto encontramos vários aglomerados, casas intercalando a floresta. O Negro se misturou com o Solimões. As águas barrentas do Solimões que se sobrepõem às águas negras dá uma coloração totalmente nova daquilo que até o momento havia visto. Aqui, o Rio Amazonas parece mais cheio, apesar de que, em determinados pontos, se vê alguns barrancos e árvores com suas raízes a mostra. Também tem enormes galhos e restos de raízes nas águas do rio.

Desta vez não encontrei “guias” como na viagem à São Gabriel da Cachoeira. A maioria não parece muito preocupada co o que tem lá fora. Tem floresta, mas muito pasto também, “bem verdinho”.
Se a Floresta Amazônica é considerada o deserto verde, devido a pobreza de seu solo, desta forma então...
Fiquei com febre, tomei paracetamol às 10 e às 12 horas. Fico arrepiada e tenho muito frio, meu pescoço está superdolorido no lado esquerdo.
O pessoal foi almoçar por 5,00 no refeitório do barco. Vi a carne sendo preparada e não gostei. Fico na bolachinha. Fico deitada na rede toda a manhã e sem tirar uma foto! - João Pedro, consegue imaginar isso? Ao contrário do Rio Negro, aqui a degradação da floresta é maior e também das pessoas. Temos que ficar de olho em tudo.
Às 14 horas fui até a enfermeira do barco, na verdade uma faz tudo, desde servir as refeições, carimbar passagens e medicar. Me deu dicofenato, depois vi numa farmácia que é um antiinflamatório e tira a dor. Finalmente dormi, à noite tomei outro e dormi novamente.

No dia seguinte, primeiro de fevereiro, tomei um banho, tava uma nhaca devido o suor. Descemos em Santarém, procuramos um barco para Macapá, encontramos o “Luan”, com saída marcada para quatro horas. Sei não, todos alunos que tive com esse nome eram da pá virada. Mas, era o único barco para lá. Aliás, barco não, navio, todo de ferro, pouca madeira, vamos ver se esse nome se redime comigo. Marcelo foi para a praia Alto do Sal, depois me mandou um torpedo falando do que eu estava perdendo. Vi uma fotos, acho que perdi mesmo, é um paraíso.

O casal grego, Dimitra e Apostolos, e eu, fomos até um local que servia almoço. O pessoal foi muito legal pois este é um tipo de restaurante que tem prato feito, de churrasco, estilo uruguaio, mas o prato vem pronto. E nós sentamos, eu fui até uma lotérica tirar uns pilas, depois os gregos foram ver artesanatos. Depois comemos, ou seja, ocupamos quatro lugares durante um tempão, mas fomos bem recebidos e servidos. Que tal uma parrijada na zona portuária de Santarém! Tínhamos à nossa disposição, mesa, cadeira, guardanapo. Parece bobagem, mas somente quando não temos algo, é que damos valor, muito valor. O sol se abriu novamente.
Peixe, deixaremos para Belém.


Embarcamos, o navio explodindo de tantas redes, crianças birrentas e pais piores ainda. Que saudades do Negro, mesmo com superlotação, as pessoas se falavam, ajudavam. Aqui não é assim, além do que tem três argentinos muuuuuiiito chatos.
Encontramos também um russo, fazendo a América do Sul, próximo ao Equador, de bicicleta. Ele, Andrej Keller http://www.woriosis.com/ , estava vindo de Tabatinga para Guiana Fancesa e Suriname.

Na terça, dia 02 de fevereiro, além de estar fazendo TRÊS meses que parei de fumar, tomamos um café da manhã tri bom. Muitas frutas, café – preto – e pão com queijo. No refeitório, serviram tudo em cumbucas de isopor que devolvíamos após o desejum. Além disso, entraram no navio uns vendedores de “tudo um pouco” e um ds tinha água de coco por um real, bem gelado e cortado na hora. Peguei um, é claro!
A noite não foi muito boa. Do lado direito, um casal jovem em uma rede de solteiro. Escamotearam um pagamento. Quando deitamos, a rede deles ficou sobre a minha e a moçoila simplesmente deitou na minha barriga, pois sua rede ficou pesada. Mudei minha rede, no meio da noite, com a ajuda de uma senhora e suas duas filhas. Elas subiram bastante suas redes e eu passei a minha por debaixo da delas. O casal continuou com sua falta de educação, como se nada tivesse acontecido. Ele, hermano, lia seriamente o Novo Testamento.
Paramos na cidade de Almeri do Pará. As meninas e a mãe desceram e eu, peguei o lugar delas. Provavelmente chegaremos à Macapá à noite e dormiremos no barco.
Á tarde, dormi um pouco, tomei banho. Não sei como esse povo faz, tomam banho rápido, ficam cheirosos, eu levo meia hora até me organizar num banheiro minúsculo e sem prateleira, somente um ganchinho.
Agora 17:30 estamos perto de Macapá. Muita gente vai descer, outros, como nós, permaneceremos até amanhã de manhã quando veremos o barco para Belém.

7 comentários:

  1. Maluzita,

    pelo que leio em teu último relato, não se faz mais turista como antigamente! Cada "mala" que encontraste, hein?! Bem, o jeito é trocar idéia com a gente boa que pintar no caminho e com o pessoal dos lugares.O resto, é o resto!Água de coco por um real? Dá prá tomar um porre disto! Que delícia! Aqui em Porto tá um calor i-n-f-e-r-n-a-l!!! Então, momosa, relaxa e goza!Beijos. Sil

    ResponderExcluir
  2. Se serve de consolo, o sul está escaldante. E Porto Alegre está particularmente insuportável em matéria de calor. Que bom que juntos estão o lado A e o lado B da viagem, .... Certamente o B servirá para risadas posteriores e o A para boas lembranças.... Aproveite...Beijos

    Gilse

    ResponderExcluir
  3. Maluquete.
    Estava achando muito normal a tua viagem pela Amazônia.Pensei que tinha mudado demais...Então devo dizer que esta realidade é o cotidiano para muitos caboclos daí. Sobre o francês, parece que todos são assim pois uma vez em Maceió o cara se juntou com umas alemãs e só detonavam. O azar deles é que conseguiamos entender o que eles fofocavam da gente. Mas diga, para onde afinal estas indo agora? Assinado, Regina em mais um dia super quente.

    ResponderExcluir
  4. Olá Malu,

    Como você está menina?
    É-me Apostolis da Grécia (Dimitra+Apostolis), eu nunca vou esquecer a nossa viagem de aventura a bordo dos navios bonito e seguro sobre a Amazônia ha, ha, ha ..
    Eu espero que você esteja tendo um bom tempo em Porto Alegre e talvez você ainda está viajando .....
    Abraços e beijos de Dimitra e eu
    Apostolis + Dimitra

    ResponderExcluir
  5. Olá pessoal!
    Fiquei um pouco preocupada quando li seu relato. Tô indo pra Belém no fim de janeiro e de lá pegarei um barco pra Manaus. Tenho dia certo pra estar em Manaus pra um congresso. Quero muito aproveitar a ida para fazer essa viagem de barco, mas o único relato que encontrei sobre este mesmo período de janeiro -fevereiro foi o seu. Se pudér dar umas dicas e informaações sobre dias de partida dos barcos e preços, e maneiras possíveis de encarar o "perrengue" serão muuuito bem vindas.

    Valeu! Brigadão!
    Ariane

    ResponderExcluir
  6. Adoro estes relatos! Hoje em dia está tudo muito mudado. Existem navios de ferro imensos, com climatização e tudo mais, capacidade para milhares de passageiros, fazendo a rota. Tem um ou mais todos os dias.

    ResponderExcluir