terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Dias em Belém


07 a 09 de fevereiro



Seguindo minha dieta cosmopolita, ignorei solenemente toda e qualquer comida regional, menos a água de coco, que ninguém é de ferro!


Todo domingo, na Praça da República, tem uma Feira de Artesanato.
Aliás, como em qualquer praça central de uma cidade, seja ela pequenininha ou de grande porte. Isso é uma das coisas mais atraentes desde os primórdios dos agrupamentos humanos: A Troca. Ela estará lá, eternamente em todos os níveis possíveis e impensáveis, nem sempre se tratará de algo materialmente palpável, mas sempre envolvente e imaginário.
Toda feira tem seus artistas, bons ou ruins, mas eles estão lá; tem balão, palhaço, fantasia de carnaval, gestos, sorrisos e olhares. A Troca enfim, está lá, pra todos.


Aqui em Belém tem muitos pontos turísticos e tento visitar alguns. Elejo prioridades, de acordo com meu humor diário. É claro que não irei a todos e não adianta depois alguém dizer: - Óh céus, como deixou de ir a tal lugar, é algo marcante da região, da história, do povo, etc e tal. Não estava a fim e não fui. O critério é meu!



Um lugar gostoso é o Mangal da Garças. Almocei lá, bacalhau.
Desculpe o bairrismo, mas não é igual ao bacalhau do antigo restaurante Galo - aquele que fechou há uns dois anos e durante toda sua existência sempre teve os piores garçons do mundo, mas não abríamos mão porque isso já era uma característica do lugar e do gosto.


Mas tá, domingo, almoço em família, bufê... parece que toda a aristocracia decadente de Belém foi usufruir do preço do almoço, porque ala carte, à noite, é bem diferente. Nunca vi tanto nariz empinado, o teto devia ter marcas de tiros de metralhadora.

Depois do almoço o passeio. É bem bonito e refrescante. Além da garças, tem os pássaros, borboletas e plantas. Dá pra ficar horas sentada num daqueles bancos só curtindo a algazarra aérea que nos é oferecida.



Nesta época, tem que se ter cuidado ao andar pela cidade, pois alguns pontos são transformados em espaços de ensaio e diversão, sem muito aviso prévio aos turistas completamente desavisados (eu, por exemplo...).

Num destes retornos, no final do dia, dei de cara com grupos carnavalescos. As ruas tinham sido transformadas em praças e pequeninos grupos como os do início do seculo XX (aprendi nas novelas da globo) começavam a se formar.
Tinha os blocos de homens só de sunga e uma gravata espalhafatosa, o das mulheres com roupa normal, chapéu de palha com laços de fita colorido e pintinhas no rosto... De tudo, mas nada de exageros, era povo mesmo na rua, montando seus blocos e se divertindo.
A rua, o caminho que eu havia decorado, o ônibus, o mapa da cidade, tudo era engolido por esta grande festa. E eu ali. Olhei pra um lado, pro outro, ninguém parecia se importar muito com minha constante aflição. - Onde estou, como retornar e o pior, a noite se aproximava. Ao redor era tudo festa, sorrisos, olhares, a troca novamente. A grande Feira da Vida. Fazer o que então? Curte, pula, brinca ... e vai procurando a saída, ela estará lá, em algum lugar.

Ver o Peso - foto da internet

Caranguejo. Uau!!! Eu já tinha experimentado, mas nunca havia me deliciado arrebentando as patinhas do pobre crustáceo. Cheguei num final de manhã a uma banquinha do mercado “Ver o Peso”. O mercado em si é bárbaro, em todos os sentidos, vale a pena conhecer.
Agora, sentar numa daquelas banquinhas que só tem quatro banquinhos altos (e dois já estão ocupados com bebuns queterãonecessariamentedesairdelá, pois somente ali tem caranguejo e EU quero muito) é fantástico. Após algumas negociações, os bons moços foram dormir em outro lugar, cedendo este pequeno palacete pra esta alma esfomeada.
Além destes quatro banquinhos, o espaço contava também com duas mesinhas e oito cadeiras já ocupadas por senhores de chapéu de aba e camisas coloridas. Eram sambistas completando suas canções para se apresentarem mais tarde. Um deles, com certo dó de meu caranguejo (não de mim), levantou e veio me ensinar como tirar a carne sem necessariamente destruir o que restava do pobre.
imagem da internet

Quando olhei para a tabuinha dele, limpa e o martelinho sem uso, e para a minha, imunda, casca por toda a bancada, quase que se via “sangue” brotando nas laterias de meu martelinho, fiquei envergonhada. Mas isso não me impediu de terminar o que eu havia iniciado. No final pedi a pia emprestada pra limpar o rosto e tirar as casquinhas das bochechas.

Outro local bonito é a Estação das Docas.





O porto transformado em espaço público (pra quem puder pagar, é claro), com restaurantes que cobram em torno de 35 reais o quilo do bufê. Limpíssimo, com lojas de grife e espaço aberto para avistar o rio Amazonas.




Por falar em Rio Amazonas, segue aqui um conselho.
Se queres conhecer o Rio e a Floresta, fique com os dois e não venha pra Belém.
Pelo menos não cometa o erro que cometi.
Não venha pra Belém pelo Rio, depois de passar cinco dias dentro dele e da Floresta.
É como se um tijolo caísse em cima de ti. A beleza do mundo desaparece.
esta foto é da internet

Saindo dos pequenos canais do rio Amazonas, onde é possível quase tocar a vegetação nos dois lados do barco, entramos na enorme baía de Guajará.
A baía, de tão grande que quase não se consegue ver o outro lado, percebendo-se apenas um filetezinho de verde bem ao longe, é tomada, de uma hora pra outra, por uma infinita parede cinza de concreto irregular.
A cena é horrorosa. Daria um belo cenário de filme de terror.
Então, se quer conhecer Belém venha para Belém, que é uma bonita cidade, depois vá para o rio e para a floresta.
Depois.
Assim a sombra cinza fica em nossas costas e não a percebemos, ou melhor, saindo do cinza para barrento rio Amazonas e aos poucos descobrindo os tons de verde da Floresta. Deixando para trás aquilo que um dia engolirá nossos sonhos.


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Amanhã, se eu acordar no horário, vou dar um pulinho na Ilha de Marajó. Acho que fico uns dois ou três dias, ainda não sei. Depende.




Volto pra POA na madrugada de segunda, saio 1:25 - TAM - SP - 9:25 - POA.



Depois falo sobre Marajó. Até lá, espero que este hostel tenha pago a conta da internet!!!!





EU PRECISO DE UM CHIMARRÃO PELAMORDEUS !

3 comentários:

  1. Oi Maluzinha, finalmente consegui um tempinho para dar uma navegada no teu blog, afinal, não é fácil dividir o notebook com um marido (que precisa acompanhar os negócios) e mais 3 adolescentes ávidas por "se conecterem com o mundo",como dizem.
    Adorei teus relatos, vais ter tanta coisa para nos contar, hem? Que tal marcar uma reunião em algum lugar só para isso? Mas imaginei que voltarias só para o início das aulas, que irias até o Maranhão. Deixaste para a próxima etapa? Sei que é cansativo, ,é legal, mas a gente fica com vontade de voltar.
    Nesta semana estamos em Fortaleza. Retornamos sexta ou sábado para Natal,aí a gente decide qual o próximo roteiro. Tem sido assim nossas férias, sempre lugares e passeios diferentes, planejados de acordo com a nossa vontade.Minha família é bem parceira para isso, aliás, as filhotas reclamam se os lugares virarem "rotina", então temos mais é que aproveitar...
    Tenha uma boa viagem de retorno. Nos encontramos
    no dia 25.
    Beijos,
    Marlí

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  2. Oi, Maluzinha.
    É! Os garçons do Galo... eram completamente o inverso do restaurante!
    Já estás voltando? Pensei que fosses ficar até o final do mes! Mas é uma linda viagem, né? Mesmo terminando pelo paredão cinza, as lembranças do verde não se vão.
    Bom proveito em Marajó!
    Beijo,
    Raul.

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  3. É, Maluzinha, vais te preparando para uma edição especial do Rodamundo, que o povo vai ficar louco com teu relato e as fotos! Ma-ra-vi-lha! E os biólogos? Tri boa gente, né, apesar das esquisitices... Aqui em porto está um calooooooooor que nunca senti ( e não é a menô, não ainda, hihi) nem chimarrão dá pra tomar. Mas nos ultimos dias o calor ficou menos forte, máxima de 34 graus (pra quem já enfrentou 41, foi refresco...) Espero que chegues bem por aqui e se quiseres um chimarrão, é só chegar! Beijos, aline

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