domingo, 18 de setembro de 2011

Setembro em Recife


É uma boa época para visitar a capital pernambucana. O clima ameno ajuda a enfrentar longas e gostosas caminhadas pela orla e pelos locais turísticos oferecidos por este simpático povo.
No calçadão da Praia da Boa Viagem, com seus edifícios enormes que roubam o sol da tarde, tomando uma água de coco e depois se lambuzando com sua carne, dá pra ficar lagarteando um tempão. Sem pressa, sem compromisso, apenas curtindo a vida com o vento batendo no rosto e maçarocando os cabelos.


Praia da Boa Viagem


O interessante é que em setembro que tem o MIMO - Mostra Internacional de Música em Olinda. O festival, que promove concertos gratuitos, exibição de filmes e programação de cursos, está na oitava edição e toma conta das cidades de Olinda, Recife e João Pessoa durante a primeira quinzena do mês. Entre outras atrações, tinha Egberto Gismonti, Philip Glass e Arrigo Barnabé, que tentamos assistir na Igreja N. S. do Rosário dos Homens Pretos, mas o calor e o abafamento não permitiram. Mas deu pra ter uma palhinha do Arrigo Barnabé. Tudo bem, porque aqui em Porto eu já havia assistido o Egberto Gismonti no Unimúsica/UFRGS no dia primeiro e vou ver o Philip Glass no dia dezenove, amanhã, na 18ª edição do projeto POA em Cena.
Então tá...

O Centro Histórico, conhecido como Recife Antigo conta com diversos prédios antigos, muitos deles mal conservados. Uma pena, pois são belos. Além disso, no bairro de Santo Antônio, onde ficam várias igrejas e o Mercado São José, que também é chamado de Mercado Popular, a sujeira tomou conta das ruas.

Igreja de Nossa Senhora do Livramento no bairro de Santo Antônio



Mercado São José

Já no outro lado do Recife Antigo, encontramos a Rua do Bom Jesus e é bem diferente. Prédios restaurados, rua limpa, conta com a Embaixada dos Bonecos Gigantes e a primeira Sinagoga das Américas, o que dá o nome antigo à rua: “Rua dos Judeus”. Ali pertinho fica o Marco Zero - tem uma placa de bronze que informa que "As distâncias no Recife são medidas a partir desse ponto". A pracinha do Marco Zero costuma sediar alguns eventos, como festas de carnaval e comícios. Ao redor, encontram-se alguns dos edifícios antigos e pode-se ver também o Parque das Esculturas com obras esculpidas por Brennand, um dos mais famosos artistas pernambucanos.


Embaixada dos Bonecos Gigantes


Nesta região do centro, também se encontra a Torre Malakof, um observatório que é aberto ao público algumas noites. Durante o dia é possível visita-lo e a vista da cidade é bárbara. Vale a pena subir seus cinco andares de escada ainda não restaurada (o elevador estava estragado).

Torre Malakof


Marco Zero

Outro lugar que vale a pena conhecer é a Casa de Cultura, uma antiga cadeia erguida no século XIX, em estilo francês, no centro da cidade. Agora transformada em espaço cultural, as antigas celas que ocupam três pavimentos, foram transformadas em pequenas lojas onde vendem artesanato. E tudo isso sem descaracterizar o espaço.

Casa de Cultura

O Parque Dona Lindu também merece a visita. Projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, ocupa um terreno que pertencia à aeronáutica, conta com sala de exposição, teatro e uma enorme área verde a beira da praia da Boa Viagem. Recebeu este nome em homenagem à mãe do nosso querido presidente Lula. Uma mulher que simboliza a luta do povo e da mulher nordestina.



De ônibus da rodoviária fomos para Caruaru. Lá tem duas coisas imperdíveis: A Feira de Caruaru, patrimônio cultural imaterial brasileiro e o Alto do Moura, onde encontra-se o Memorial do Mestre Vitalino. Foi nesse bairro que começou a história dos artesãos de Caruaru.

A Feira de Caruaru é composta por várias feiras:

AFeira Livre, composta pela Feira de frutas e verduras, pelo Açougue de Carne e pelo Mercado de Feijão e Farinha.

A Feira da Sulanca, onde se compra roupas industrializadas a partir de R$ 1.00.

A Feira do Artesanato ou Feira dos Artistas, onde se concentra todos os tipos de artes manuais que utilizam barro, madeira, pedra, metal, palha, coco, cordas, couro, rede, entre outros.

A Feira dos Importados ou Feira do Paraguai.

São em média 400 ônibus e 40.000 pessoas por feira.




Feira de Caruaru

Acho que este local resgata um pouco do que seriam as Feiras da Idade Média européia. Pelo menos é como me senti. Tem de “tudoumpouco” mesmo. Tem inclusive o Museu do Cordel Olegário Fernandes - em plena feira!

A Feira de Caruaru

Luíz Gonzaga

A Feira de Caruaru,
Faz gosto a gente vê.
De tudo que há no mundo,
Nela tem pra vendê,
Na feira de Caruaru.

Tem massa de mandioca,
Batata assada, tem ovo cru,
Banana, laranja, manga,
Batata, doce, queijo e caju,
Cenoura, jabuticaba,
Guiné, galinha, pato e peru,
Tem bode, carneiro, porco,
Se duvidá... inté cururu.

Tem cesto, balaio, corda,
Tamanco, gréia, tem cuêi-tatu,
Tem fumo, tem tabaqueiro,
Feito de chifre de boi zebu,
Caneco acuvitêro,
Penêra boa e mé de uruçú,
Tem carça de arvorada,
Que é pra matuto não andá nú.

Tem rêde, tem balieira,
Mode minino caçá nambu,
Maxixe, cebola verde,
Tomate, cuento, couve e chuchu,
Armoço feito nas torda,
Pirão mixido que nem angu,
Mubia de tamburête,
Feita do tronco do mulungú.

Tem loiça, tem ferro véio,
Sorvete de raspa que faz jaú,
Gelada, cardo de cana,
Fruta de paima e mandacaru.
Bunecos de Vitalino,
Que são cunhecidos inté no Sul,
De tudo que há no mundo,
Tem na Feira de Caruaru.


Considerado pela UNESCO - O maior Centro de Artes Figurativas das Américas, é o Alto do Moura uma comunidade de artistas. Cada residência se transforma em ateliê, envolvendo toda a comunidade local, desde o mais simples ajudante àqueles que moldam o barro transformando-o em arte.

O Memorial do Mestre Vitalino serviu de residência do grande ceramista e família. Foi transformada em museu em 1971. O acervo é constituído pela própria edificação, em tijolos crus, que data de 1959, de objetos de uso pessoal e familiar, onde retrata a vida simples do grande mestre.



A moça que estava no Memorial, neta do mestre Vitalino, disse que sua atividade era apenas pintar as peças produzidas por seu pai e parentes. Toda a produção aqui é manual e familiar.

Dizem que o grande barato é também, comer buchada de bode. Mas desse eu não tive coragem.

Casa transformada em Memorial

Mestre Vitalino

Agora atenção! Andar de metrô é uma aventura! Depois de passar um dia maravilhoso em Caruaru, voltamos para Recife de ônibus. Na estação rodoviária, pegamos o transporte mais inteligente e barato do mundo - o metrô. Tudo para vivenciar mais um pouco do cotidiano do recifense. Pararíamos no centro e de lá pegaríamos um táxi para a Praia da Boa Viagem. Tudo tranquilo, tranqüilo.

Que nada!

Descemos duas paradas depois, num bairro “hiperpopular” e retornamos ligeirinho, com outro trem, para a estação rodoviária. Daí fomos de táxi direto para o hotel.

Até parecia filme de terror.

O vagão imundo, cheiro brabo mesmo. Quando o trem já havia partido é que começamos a olhar em volta. Na frente, um homem com um ferimento na maçã do rosto. Corte profundo e sangue seco.

Tento olhar para o outro lado, distrair, mas não adianta. Retorno a olhar para frente e levo outro susto. Nossa! Não havia olhado direito da primeira vez. Não era apenas um corte na maçã do rosto daquele homem. A cabeça estava enfaixada com uma gaze mal colocada, por cima, um boné. A atadura ensangüentada assim como a camiseta. Olhar perdido, nas mãos um prontuário do hospital.

Tudo bem - poderia ser um trabalhador que se feriu ao cair de um andaime. Mas o que se passava pelas nossas mentes era coisa de briga, assassinato, coisa feia mesmo. Tudo isso somado ao aspecto do vagão e dos locais por onde passava fez com que a respiração encurtasse. Saímos correndo.

Essa experiência popular não deu muito certo.



Muitas vezes, nossos passeios se iniciavam com a chegada do seu Severino, nosso taxista adotado. O que dava um toque a mais era o fato dele não ter nenhum dente, falar bem baixinho e para dentro, como se fosse um resmungo. Eu ficava aflita, pois não entendia quase nada e lá estava ele, contando um pouco sobre sua cidade, sugerindo lugares e sempre bem humorado. Uma simpatia. Toda vez que entrávamos no carro, lá vinha seu Severino: - Não esqueçam do Instituto Brennand! É imperdível. Os outros taxistas ficavam com ciúmes, é claro!

Apesar dos apelos do seu Severino, faltou ver muitos lugares como a Fundação Gilberto Freyre, o Instituto Brennand, entre outros. Mas assim tenho muito mais motivos para voltar.

2 comentários:

  1. Êta menina arretada, que não tem medo de quase nada quando cai na estrada. Só de buchada e do metrô-terror de Recife.
    Beijos de Bamba, sua fiel seguidora.

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  2. Do jeito que escreves, dá vontade de estar lá.
    bj, Tereca

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