"Paraíba Masculina, Mulher Macho sim Senhor!"
eu poderia ir de caiaque...
A música: “Paraíba
masculina” foi escrita por Humberto Teixeira para o estado da Paraíba a
fim de homenageá-la : o trecho "eita, pau Pereira que em Princesa já
roncou" refere-se ao episódio liderado pelo Coronel José Pereira,
chefe político do município Princesa Isabel que alegou a independência e
declarou guerra contra o estado da Paraíba governado então por João Pessoa
Cavalcanti.
A música segue em
seu trecho: “seu bodoque não quebrou” refere-se à coragem de João Pessoa
em brigar de qualquer forma, mesmo de bodoque (uma espécie de arma artesanal,
estilingue) se fosse necessário.
Por fim, a Paraíba
participou ativamente da formação da Aliança Liberal em 1930, movimento
que tinha Getúlio Vargas como candidato a Presidente e João Pessoa como
candidato a Vice.
A Paraíba está localizada no Nordeste do
País, entre os Estados do Rio Grande do Norte e de Pernambuco. Sua bandeira é
vermelha e preta, com o vermelho representando a cor da Aliança Liberal - união
de opositores à candidatura de Júlio Prestes à presidência da República criada
em 1929 - e o preto, luto em homenagem ao ex-governador do Estado, João Pessoa,
morto em 1930 e que hoje dá nome à capital.
Então, tudo explicado. Agora conto o
porquê que eu iniciei o conto desta forma.
Quarta-feira, em Porto Alegre fez-se
noite no dia. Caiu toda água que deus mandou e a cidade parou. Eram umas quatro
da tarde e me avisaram do ocorrido.
Eu, em uma reunião numa sala sem janela,
pronta para sair lá pelas cinco, pois meu voo estava marcado para as oito horas
e dez minutos.
Não deu outra. Peguei minha bolsa e
despenquei escada abaixo e cheguei na rua – UAU! Taxi? O que é isso em um dia
como aquele? Fui a pé mesmo!
Pela manhã havia passado na casa de minha
mãe e deixado a mala e a mochila lá. Ela mora mais próximo de onde eu estaria e
a caminho do aeroporto. Daria umas 15 quadras até lá.
Depois de umas duas quadras cuidando para
não molhar o pé, a sandalinha tipo tamanquinho que eu estava era muito
delicada, faço uma curva e... enchente. Olho para um lado e para outro e vejo só
água, e subindo.
Desci e UAU de novo. A água tinha subido
e eram umas cinco e meia. Mas claro que vou! Segurei a mala nas mãos, olhei
para ver até onde a água me pegaria e fiquei preocupada. Mas tudo bem. O máximo
seria cair de boca aberta nesta água imunda...
Negocia pra cá, negocia pra lá e chegamos
a um acordo. Eu sem capacete não iria muito longe e meu herói momentâneo não
queria uma multa. Levou-me até onde daria para caminhar e levar a mala nas
rodinhas, sim, porque era uma mala, mas tinha rodinhas.
Estou salva! Penso eu.
O motoboy me leva até um local seco (?). Caminho
umas dez quadras até uma parada de ônibus, já que não tem taxi, não tem cão,
tem gato...
A parada estava lotada. Informam-me que
as empresas de ônibus estão em greve por causa do aumento que querem nas
passagens, passam três e não param e me atiro na frente de um taxi que por
acaso passa ali. Nisso grito para as pessoas que ficaram espantadas com uma
louca que nem eu: - vou para o aeroporto, quem quiser que venha junto!
Entram duas moças e já vão agradecendo.
Elas ficariam perto do aeroporto, para pegar o trem e ir para suas casas na
região metropolitana. Uma era empregada doméstica, o taxista casado com uma
professora municipal, eu e a outra, que trabalhava no Telemarketing da empresa Vivo e que quase
foi posta pra fora do carro quando descobrimos.
O tempo passa e o transito não ajuda. “Que
horas a senhora tem que estar no aeroporto?” Pergunta o motorista e eu repondo:
às sete, como se isso fosse acontecer...
Tudo parado, contamos piada, causos, conhecemos
um pouco de cada um de nós e de vez em quando andávamos. As meninas desceram no
meio do caminho agradecendo bastante e torcendo que eu chegasse a tempo.
Cheguei, eu e um povo todo. Oito horas.
Já estavam fechando a sala e quase me colocaram junto com a mala, com uma
etiqueta na esteira.
Então, ir para Paraíba desta forma, só
podia ter uma música assim:
Eita Pau Pereira que em
Princesa já roncou
Eita Paraíba mulher
macho sim senhor,
Eita Pau Pereira meu
bodoque não quebrou!”
(Paraíba – Humberto
Teixeira/Luiz Gonzaga)
No avião já em curso, vou até o banheiro
e faço todo o trajeto por lá. Pé na pia e lavagem geral da situação. Sentia
como se tivessem uns bichinhos subindo por minhas pernas. Na conexão em SP,
compro a Folha de São Paulo, vou até outro banheiro e lavo bem as sandálias,
novamente quase acabo com as toalhinhas e pego outro avião até João Pessoa. É
claro que fiquei descalça durante este trajeto. As sandálias foram forradas com
o jornal.
porta do banheiro
Até aqui, as fotos foram copiadas de
sites diversos. Pena não ter tirado uma foto de moto...
As próximas são minhas.
Paraíba
João Pessoa no Litoral
Pedra do Ingá no Agreste
Paraibano
Areia na Região do Brejo
nosso rumo
Depois de dormir um pouco, na manhã
seguinte pegamos um taxi que foi previamente contratado para fazer a viagem de
João Pessoa para Pedra do Ingá e depois, Areia.
O taxista Daniel foi um “show de bola”,
termo utilizado por ele a todo o momento quando se referia a algo bom e bonito
de seu estado amado. A Paraíba é um show de bola!
estrada
Cruzamos o estado de leste a oeste e a paisagem vai mudando a cada momento. Da zona litorânea para a seca e após, a serra. Não tem como a paisagem ficar feia, nem mesmo o Daniel deixar de achar seu estado um “show de bola” em momento algum. As cores chamam a atenção. Do verde a cor de terra, ao verde novamente. Flores, galhos, rio seco, ponte quebrada, gado magro, estiagem prolongada. É incrível, mas tudo tem beleza, mesmo na tristeza da seca.
estrada
marco de entrada da cidade
Quanto mais nos aproximávamos de Ingá, mais a paisagem ficava marrom. Chegamos a região da seca.
Pedra do Ingá ou Itaquatiara
A Pedra do Ingá, foi o primeiro monumento arqueológico tombado como patrimônio nacional 1944; na realidade é um sítio arqueológico rochoso com dezenas de inscrições, onde pela qual não se conhece qual à sua origem e está localizado no município de Ingá, distante cerca de 100 km de João Pessoa - na beira do rio Ingá de Bacamarte. Os arqueólogos classificam à Pedra do Ingá como "Itaquatiara"- que em tupi significa "pedras pintadas", embora as inscrições estejam esculpidas em baixo relevo e não pintadas, onde no bloco rochoso principal, com 24 metros de comprimento e quase 4 metros de altura, podemos observar à maioria das inscrições que formam um fabuloso painel com dezenas de gravuras, provavelmente produzidas pelo uso de instrumentos de pedra que "guardariam" dados sobre o cotidiano e de acontecimentos marcantes do homem pré-histórico que ali viviam.
entrada do sitio arqueológico
Caminhamos pelo leito seco do rio, entre
as rochas e o que restava de água. Lá estava ela, magnífica e única. E quer
saber, quando nos demos conta, estávamos pisando nas constelações. É incrível
que este patrimônio esteja assim, tão entregue ao tempo. Para chegar a grande
pedra, pisávamos em entalhes feitos no chão – as estrelas e virávamos parte
dela.
Pedra do Ingá - chão, onde pisamos
Rio onde encontra-se a Pedra do Ingá
Encontramos um estudante universitário,
andante entre os monumentos da região, andarilho mochileiro paulista encantado
pelo nosso mundo. Tinha chegado de moto táxi e voltaria a pé até a pequena
cidadezinha e, de lá, após o almoço, iria pegar um ônibus e seguir sua trilha
para outros monumentos.
Pedra do Ingá e eu
Pedra do Ingá - detalhe
Pedra do Ingá
Pedra do Ingá
“E
a Pedra do Ingá?
Zé
Ramalho: Essa pedra é o
seguinte: de vez em quando faço visitas à Pedra do Ingá. É curiosa porque ela
me dá projeções de como imagino certas coisas: criação do mundo, primeiros
habitantes da terra, criaturas do espaço que vieram aqui. Eu sou agnóstico,
como John Lennon: imagino o mundo sem religiões. Eu aceito a explicação, que
cada vez é mais permanente, que foram criaturas do espaço que vêm nos visitar.
Faço parte dessa legião de ufólogos que tem grande esperança numa revelação.”
O long-play
de Paêbirú - Paêbirú, (Peabiru ou Paêbirú: Caminho da Montanha
do Sol caminho que se estendia por mais de
mil e duzentos quilômetros da costa brasileira do Oceano Atlântico ao Oceano
Pacífico) é um álbum brasileiro
lançado no ano de 1975 por Lula Côrtes e Zé Ramalho. O disco contém uma grande miscelânea de gêneros
musicais como o rock psicodélico, jazz, e ritmos regionais do Nordeste Brasileiro. Foi um dos primeiros discos não declarados da
psicodélia brasileira.O disco é hoje o vinil com maior
valor comercial no Brasil. A principal inspiração dos musicos na criação do disco foi
a Pedra do Ingá, situada no
município de Ingá, no interior da Paraíba, que é hoje um dos monumentos
arqueológicos mais significativos do mundo.
No decorrer da criação do disco, a variedade de lendas sobre Sumé –
entidade mitológica em que os indígenas acreditavam antes da colonização –
inspiraram além da faixa de abertura, diversas passagens do álbum. Outras
entidades importantes da cultura brasileira como Iemanjá também são citadas no disco.
Lula
e Zé Ramalho
Ao retornar para a estrada encontramos
novas paisagens.
flamboaiã também conhecida por flor-do-paraíso, pau-rosa, flamboyant, flamboiaiã e acácia-rubra cheia de flores apesar da seca
Passamos pela cidade de Alagoa Grande, com um pórtico
homenageando Jacson do Pandeiro.
pandeiro
lagoa
31/08/1919 – Do alto da
serra onde se localiza Areia, em plena região do brejo paraibano, avista-se lá
embaixo o Município de Alagoa Grande, com a lagoa que identifica o lugar
brilhando à luz do sol, como um espelho cristalino em meio a um tapete verde. Pois
foi em
Alagoa Grande , em 31 de agosto de 1919, que nasceu, no Engenho
Tanques, José Gomes Filho, que mais tarde viria a se tornar conhecido como
Jackson do Pandeiro. Filho da pernambucana de Timbaúba, cantadora de coco Flora
Maria da Conceição, conhecida por Flora Mourão e do oleiro paraibano de Alagoa
Grande José Gomes. Passa a infância (até os sete anos de idade) vendo e ouvindo
as rodas de coco e nadando e pescando nos rios Mamanguape e Mandaú e na Lagoa
do Paó, além de apreciar os filmes de faroeste, em especial, os estrelados por
Jack Perrin. Do mesmo pai, Jackson tinha dois irmãos Severina e João (Tinda).
Jacson do Pandeiro
estrada de Alagoa Grande para Areia
Com chuva, que estava me perseguindo a todo instante,
chegamos a Areia, terra de Pedro Américo, artista plástico, autor do famoso
quadro que simboliza a Proclamação da Independência, “O Grito do Ipiranga”. A
antiga casa do pintor se tornou hoje a Casa Museu Pedro Américo, que abriga
objetos do artista. Ela é dirigida pela prefeitura do município e fica na Rua
Pedro Américo.
entrada de Areia
igreja Rosário dos
Pretos
CASA DE PEDRO AMÉRICO –
O prédio onde nasceu o artista plástico, Pedro Américo de Figueiredo, é uma
construção simples, conjugada, com uma porta e duas janelas na frente. Havia
outrora sala de visitas, sala de jantar, dois quartos, cozinha, banheiro e um
pequeno quintal. Nas proximidades do centenário de nascimento do pintor, a
Prefeitura efetuou a desapropriação do imóvel que sofreu modificações a fim de
funcionar como pinacoteca e museu do Município. As janela e portas receberam
vidraças e a divisão interna foi alterada. Atualmente consta de duas salas na
primeira das quais foi instalado o Museu com mais de vinte reproduções de telas
famosas do artista, alguns esboços autênticos e o original “Cristo Morto”, de
inestimável valor, um dos seus últimos trabalhos, pintado em 1901.
Há também um retrato de
Pedro Américo, pintado por seu irmão Aurélio de Figueiredo. Expostos numa
vitrine, objetos de uso pessoal: alguns pincéis, um velho esquadro. Também uma
palmatória que pertenceu à sua mãe, um álbum de caricaturas, fotos da família e
os livros escritos por ele na Europa – “Holocausto”, em 1882, “O Foragido”, em
1899, “Na Cidade Eterna”, em 1901, além de um crucifixo e um vidro contendo uma
página de jornal, retirados de seu caixão mortuário. Na outra sala funciona a
galeria de areienses ilustres.
escada museu
museu- casa branca com janelas azuis
telhas pintadas retratando o pintor Pedro Américo
O Sobrado de José Rufino foi construído no início do século
XIX. Homens de fortuna, como o português Francisco Jorge Torres, construíram os
primeiros sobrados da vila. Erguido em 1818 foi na década de setenta
restaurados por um areiense, José Rufino de Almeida.
Possui três pavimentos, incluindo o sótão, onde se encontram
mirantes em forma de seteiras, cuja finalidade era permitir a penetração da luz
e do ar além de servir eventualmente para defesa. No térreo, pequenas saletas
sem janelas onde eram “guardados” os escravos que ficavam amontoados durante a
noite.
seteiras
Sobrado de José Rufino e Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição
O Teatro Minerva foi inaugurado em 1859, com o nome de Teatro
Recreio Dramático foi uma iniciativa pioneira que precedeu em trinta anos o
teatro da Capital. Funcionava regularmente com representações dos conjuntos
amadores locais. Dizem que mesmo companhias famosas que se exibiam em Recife,
iam até Areia.
Quando lá estivemos, vários moradores locais estavam
aguardando um professor, teriam aula de um curso profissionalizante neste dia.
Teatro Minerva
Areia foi uma das primeiras cidades do Brasil a decretar a abolição da
escravatura, antes mesmo da lei ser assinada pela Princesa Isabel. Também foi a primeira cidade da Paraíba a usar o
jornal impresso.
Possui 117 engenhos. Teve o primeiro Teatro da
Paraíba - Teatro Minerva (anteriormente chamado de Recreio Dramático) e possui
uma Banda Filarmônica Centenária, um ano a menos que a cidade. Foi eleita
Patrimônio Histórico Nacional, em 2005, pelo IPHAN. Foi palco também de
capítulos importantes de nossa história no século XIX, como a Revolução
Pernambucana e a Confederação do Equador.
Tudo isso acontecendo neste pequenino
pedacinho da Paraíba, que poucos tem o prazer de conhecer.
Na capital paraibana passeamos no Centro Histórico, revisitei o
Conjunto Franciscano que mais do que belo e caminhamos, caminhamos e caminhamos
bastante. Foi um bom passeio. Adoro esta cidade e este estado. Se não fosse gaúcha
acho que poderia ser paraibana, uai!
Conjunto Franciscano, Cruzeiro esculpido em pedra e eu
eira e beira
Expressão popular: Sem eira e sem beira – Que encontramos no Conjunto
Franciscano com nosso guia particular.
Significa pessoas sem bens, sem posses.
Eira é um terreno de terra batida ou cimento onde grãos ficam ao ar livre para
secar. Beira é a beirada da eira. Quando uma eira não tem beira, o vento leva
os grãos e o proprietário fica sem nada. Na região nordeste este ditado tem o
mesmo significado mas outra explicação. Dizem que antigamente as casas das
pessoas ricas tinham um telhado triplo: a eira, a beira e a tribeira como era
chamada a parte mais alta do telhado. As pessoas mais pobres não tinham
condições de fazer este telhado , então construíam somente a tribeira ficando
assim "sem eira nem beira".
eu na torre do sino
centro histórico de João Pessoa
Passamos um tempo na praia porque ninguém é de ferro e a chuva
finalmente nos abandonou.
Ai, ai... Pena que acaba... mas tem mais por vir! Não tem?
João Pessoa
vendedores na praia - tinha mais vendedores que banhistas