sábado, 2 de março de 2013

Paraíba: João Pessoa, Ingá e Areia


"Paraíba Masculina, Mulher Macho sim Senhor!"
eu poderia ir de caiaque...

 Bandeira da Paraíba

A música: “Paraíba masculina” foi escrita por Humberto Teixeira para o estado da Paraíba a fim de homenageá-la :  o trecho "eita, pau Pereira que em Princesa já roncou" refere-se ao  episódio liderado pelo Coronel José Pereira, chefe político do município Princesa Isabel que alegou a independência e declarou guerra contra o estado da Paraíba governado então por João Pessoa Cavalcanti.
A música segue em seu trecho: “seu bodoque não quebrou” refere-se à coragem de João Pessoa em brigar de qualquer forma, mesmo de bodoque (uma espécie de arma artesanal, estilingue) se fosse necessário.
Por fim, a Paraíba participou ativamente da formação da Aliança Liberal em 1930, movimento que tinha Getúlio Vargas como candidato a Presidente e João Pessoa como candidato a Vice.
 A música na verdade, foi uma homenagem a um estado tão pequenino, feminino, mas que participou de um movimento que transformou a nação inteira. “Mulher macho” refere-se à própria Paraíba (estado), definitiva na história da nossa nação.
A Paraíba está localizada no Nordeste do País, entre os Estados do Rio Grande do Norte e de Pernambuco. Sua bandeira é vermelha e preta, com o vermelho representando a cor da Aliança Liberal - união de opositores à candidatura de Júlio Prestes à presidência da República criada em 1929 - e o preto, luto em homenagem ao ex-governador do Estado, João Pessoa, morto em 1930 e que hoje dá nome à capital.


Então, tudo explicado. Agora conto o porquê que eu iniciei o conto desta forma.
Quarta-feira, em Porto Alegre fez-se noite no dia. Caiu toda água que deus mandou e a cidade parou. Eram umas quatro da tarde e me avisaram do ocorrido.
Eu, em uma reunião numa sala sem janela, pronta para sair lá pelas cinco, pois meu voo estava marcado para as oito horas e dez minutos.
Não deu outra. Peguei minha bolsa e despenquei escada abaixo e cheguei na rua – UAU! Taxi? O que é isso em um dia como aquele? Fui a pé mesmo!
Pela manhã havia passado na casa de minha mãe e deixado a mala e a mochila lá. Ela mora mais próximo de onde eu estaria e a caminho do aeroporto. Daria umas 15 quadras até lá.


Depois de umas duas quadras cuidando para não molhar o pé, a sandalinha tipo tamanquinho que eu estava era muito delicada, faço uma curva e... enchente. Olho para um lado e para outro e vejo só água, e subindo.
 Então tá, já tinha molhado um pouquinho o pé, então me fui. O vestido - tive que começar a segurá-lo cada vez mais para cima. Ok, ninguém estava reparando mesmo, com toda aquela desgraceira, cada um tentava era se salvar mesmo. O tamanquinho, ora, ora, molhou, aliás, ficou submerso.
 E assim me fui, quadra a quadra, cuidando para não cair num buraco e cheguei a rua de minha mãe. O que eu havia passado era fichinha. O vestido subiu mais um pouco e atravessei a rua. Entrei no edifício que já estava com água no hall de entrada.
 Tomei uma ducha, tirei metade das roupas da mala e o computador da mochila. Testei. Vi que conseguiria caminhar segurando-a e com a mochila nas costas com minha Nikon D40 ensacada e bem guardada, assim como ensaquei as roupas que levaria, pois a mala poderia molhar, mas seu conteúdo não.

 Charge do Kayser

Desci e UAU de novo. A água tinha subido e eram umas cinco e meia. Mas claro que vou! Segurei a mala nas mãos, olhei para ver até onde a água me pegaria e fiquei preocupada. Mas tudo bem. O máximo seria cair de boca aberta nesta água imunda...
 Nisso não é que chega o motoboy da entrega da farmácia com uma encomenda daminha mãe? Adivinha só o que eu fiz???
Negocia pra cá, negocia pra lá e chegamos a um acordo. Eu sem capacete não iria muito longe e meu herói momentâneo não queria uma multa. Levou-me até onde daria para caminhar e levar a mala nas rodinhas, sim, porque era uma mala, mas tinha rodinhas.
 Apenas um detalhe interessante, eu estava com meu vestidinho, agora com uma sandália com velcro, mas de vestidinho... e a moto era de tele entrega, ou seja, com aquela maleta alta na parte de trás. Novamente penso que todos estão mais preocupados com suas vidas e não comigo, levanto a perna bem alto, passo por cima da moto e da maleta e me sento naquele acento molhadérrimo, urgh!

Estou salva! Penso eu.
O motoboy me leva até um local seco (?). Caminho umas dez quadras até uma parada de ônibus, já que não tem taxi, não tem cão, tem gato...
A parada estava lotada. Informam-me que as empresas de ônibus estão em greve por causa do aumento que querem nas passagens, passam três e não param e me atiro na frente de um taxi que por acaso passa ali. Nisso grito para as pessoas que ficaram espantadas com uma louca que nem eu: - vou para o aeroporto, quem quiser que venha junto!
Entram duas moças e já vão agradecendo. Elas ficariam perto do aeroporto, para pegar o trem e ir para suas casas na região metropolitana. Uma era empregada doméstica, o taxista casado com uma professora municipal, eu e a outra, que trabalhava no Telemarketing  da empresa Vivo e que quase foi posta pra fora do carro quando descobrimos.

O tempo passa e o transito não ajuda. “Que horas a senhora tem que estar no aeroporto?” Pergunta o motorista e eu repondo: às sete, como se isso fosse acontecer...
Tudo parado, contamos piada, causos, conhecemos um pouco de cada um de nós e de vez em quando andávamos. As meninas desceram no meio do caminho agradecendo bastante e torcendo que eu chegasse a tempo.
Cheguei, eu e um povo todo. Oito horas. Já estavam fechando a sala e quase me colocaram junto com a mala, com uma etiqueta na esteira.


Então, ir para Paraíba desta forma, só podia ter uma música assim:

Eita Pau Pereira que em Princesa já roncou
Eita Paraíba mulher macho sim senhor, 
Eita Pau Pereira meu bodoque não quebrou!”
(Paraíba – Humberto Teixeira/Luiz Gonzaga)

No avião já em curso, vou até o banheiro e faço todo o trajeto por lá. Pé na pia e lavagem geral da situação. Sentia como se tivessem uns bichinhos subindo por minhas pernas. Na conexão em SP, compro a Folha de São Paulo, vou até outro banheiro e lavo bem as sandálias, novamente quase acabo com as toalhinhas e pego outro avião até João Pessoa. É claro que fiquei descalça durante este trajeto. As sandálias foram forradas com o jornal.

porta do banheiro

Até aqui, as fotos foram copiadas de sites diversos. Pena não ter tirado uma foto de moto...
As próximas são minhas.

Paraíba

João Pessoa no Litoral
Pedra do Ingá no Agreste Paraibano
Areia na Região do Brejo

nosso rumo

Depois de dormir um pouco, na manhã seguinte pegamos um taxi que foi previamente contratado para fazer a viagem de João Pessoa para Pedra do Ingá e depois, Areia.
O taxista Daniel foi um “show de bola”, termo utilizado por ele a todo o momento quando se referia a algo bom e bonito de seu estado amado. A Paraíba é um show de bola!

 estrada

estrada

Cruzamos o estado de leste a oeste e a paisagem vai mudando a cada momento. Da zona litorânea para a seca e após, a serra. Não tem como a paisagem ficar feia, nem mesmo o Daniel deixar de achar seu estado um “show de bola” em momento algum. As cores chamam a atenção. Do verde a cor de terra, ao verde novamente. Flores, galhos, rio seco, ponte quebrada, gado magro, estiagem prolongada. É incrível, mas tudo tem beleza, mesmo na tristeza da seca.

estrada

marco de entrada da cidade

Quanto mais nos aproximávamos de Ingá, mais a paisagem ficava marrom. Chegamos a região da seca. 


Pedra do Ingá ou Itaquatiara 

A Pedra do Ingá, foi o primeiro monumento arqueológico tombado como patrimônio nacional 1944; na realidade é um sítio arqueológico rochoso com dezenas de inscrições, onde pela qual não se conhece qual à sua origem e está localizado no município de Ingá, distante cerca de 100 km de João Pessoa - na beira do rio Ingá de Bacamarte. Os arqueólogos classificam à Pedra do Ingá como "Itaquatiara"- que em tupi significa "pedras pintadas", embora as inscrições estejam esculpidas em baixo relevo e não pintadas, onde no bloco rochoso principal, com 24 metros de comprimento e quase 4 metros de altura, podemos observar à maioria das inscrições que formam um fabuloso painel com dezenas de gravuras, provavelmente produzidas pelo uso de instrumentos de pedra que "guardariam" dados sobre o cotidiano e de acontecimentos marcantes do homem pré-histórico que ali viviam.

 entrada do sitio arqueológico

Caminhamos pelo leito seco do rio, entre as rochas e o que restava de água. Lá estava ela, magnífica e única. E quer saber, quando nos demos conta, estávamos pisando nas constelações. É incrível que este patrimônio esteja assim, tão entregue ao tempo. Para chegar a grande pedra, pisávamos em entalhes feitos no chão – as estrelas e virávamos parte dela.

Pedra do Ingá - chão, onde pisamos

Rio onde encontra-se a Pedra do Ingá

Encontramos um estudante universitário, andante entre os monumentos da região, andarilho mochileiro paulista encantado pelo nosso mundo. Tinha chegado de moto táxi e voltaria a pé até a pequena cidadezinha e, de lá, após o almoço, iria pegar um ônibus e seguir sua trilha para outros monumentos.

Pedra do Ingá e eu

Pedra do Ingá - detalhe

Pedra do Ingá


Pedra do Ingá

E a Pedra do Ingá?
Zé Ramalho: Essa pedra é o seguinte: de vez em quando faço visitas à Pedra do Ingá. É curiosa porque ela me dá projeções de como imagino certas coisas: criação do mundo, primeiros habitantes da terra, criaturas do espaço que vieram aqui. Eu sou agnóstico, como John Lennon: imagino o mundo sem religiões. Eu aceito a explicação, que cada vez é mais permanente, que foram criaturas do espaço que vêm nos visitar. Faço parte dessa legião de ufólogos que tem grande esperança numa revelação.
long-play de Paêbirú - Paêbirú, (Peabiru ou Paêbirú: Caminho da Montanha do Sol caminho que se estendia por mais de mil e duzentos quilômetros da costa brasileira do Oceano Atlântico ao Oceano Pacífico) é um álbum brasileiro lançado no ano de 1975 por Lula Côrtes e Zé Ramalho. O disco contém uma grande miscelânea de gêneros musicais como o rock psicodélico, jazz, e ritmos regionais do Nordeste Brasileiro. Foi um dos primeiros discos não declarados da psicodélia brasileira.O disco é hoje o vinil com maior valor comercial no Brasil. A principal inspiração dos musicos na criação do disco foi a Pedra do Ingá, situada no município de Ingá, no interior da Paraíba, que é hoje um dos monumentos arqueológicos mais significativos do mundo.
No decorrer da criação do disco, a variedade de lendas sobre Sumé – entidade mitológica em que os indígenas acreditavam antes da colonização – inspiraram além da faixa de abertura, diversas passagens do álbum. Outras entidades importantes da cultura brasileira como Iemanjá também são citadas no disco.

 Lula e Zé Ramalho

Ao retornar para a estrada encontramos novas paisagens.

flamboaiã também conhecida por flor-do-paraíso, pau-rosa, flamboyant, flamboiaiã e acácia-rubra cheia de flores apesar da seca

 construções rudimentares na estrada

Passamos pela cidade de Alagoa Grande, com um pórtico homenageando Jacson do Pandeiro.

pandeiro

lagoa

31/08/1919 – Do alto da serra onde se localiza Areia, em plena região do brejo paraibano, avista-se lá embaixo o Município de Alagoa Grande, com a lagoa que identifica o lugar brilhando à luz do sol, como um espelho cristalino em meio a um tapete verde. Pois foi em Alagoa Grande, em 31 de agosto de 1919, que nasceu, no Engenho Tanques, José Gomes Filho, que mais tarde viria a se tornar conhecido como Jackson do Pandeiro. Filho da pernambucana de Timbaúba, cantadora de coco Flora Maria da Conceição, conhecida por Flora Mourão e do oleiro paraibano de Alagoa Grande José Gomes. Passa a infância (até os sete anos de idade) vendo e ouvindo as rodas de coco e nadando e pescando nos rios Mamanguape e Mandaú e na Lagoa do Paó, além de apreciar os filmes de faroeste, em especial, os estrelados por Jack Perrin. Do mesmo pai, Jackson tinha dois irmãos Severina e João (Tinda).


Jacson do Pandeiro

 estrada de Alagoa Grande para Areia

Com chuva, que estava me perseguindo a todo instante, chegamos a Areia, terra de Pedro Américo, artista plástico, autor do famoso quadro que simboliza a Proclamação da Independência, “O Grito do Ipiranga”. A antiga casa do pintor se tornou hoje a Casa Museu Pedro Américo, que abriga objetos do artista. Ela é dirigida pela prefeitura do município e fica na Rua Pedro Américo.

entrada  de Areia
igreja Rosário dos Pretos
  
CASA DE PEDRO AMÉRICO – O prédio onde nasceu o artista plástico, Pedro Américo de Figueiredo, é uma construção simples, conjugada, com uma porta e duas janelas na frente. Havia outrora sala de visitas, sala de jantar, dois quartos, cozinha, banheiro e um pequeno quintal. Nas proximidades do centenário de nascimento do pintor, a Prefeitura efetuou a desapropriação do imóvel que sofreu modificações a fim de funcionar como pinacoteca e museu do Município. As janela e portas receberam vidraças e a divisão interna foi alterada. Atualmente consta de duas salas na primeira das quais foi instalado o Museu com mais de vinte reproduções de telas famosas do artista, alguns esboços autênticos e o original “Cristo Morto”, de inestimável valor, um dos seus últimos trabalhos, pintado em 1901.
Há também um retrato de Pedro Américo, pintado por seu irmão Aurélio de Figueiredo. Expostos numa vitrine, objetos de uso pessoal: alguns pincéis, um velho esquadro. Também uma palmatória que pertenceu à sua mãe, um álbum de caricaturas, fotos da família e os livros escritos por ele na Europa – “Holocausto”, em 1882, “O Foragido”, em 1899, “Na Cidade Eterna”, em 1901, além de um crucifixo e um vidro contendo uma página de jornal, retirados de seu caixão mortuário. Na outra sala funciona a galeria de areienses ilustres.

escada museu


museu- casa branca com janelas azuis

telhas pintadas retratando o pintor Pedro Américo

O Sobrado de José Rufino foi construído no início do século XIX. Homens de fortuna, como o português Francisco Jorge Torres, construíram os primeiros sobrados da vila. Erguido em 1818 foi na década de setenta restaurados por um areiense, José Rufino de Almeida.
Possui três pavimentos, incluindo o sótão, onde se encontram mirantes em forma de seteiras, cuja finalidade era permitir a penetração da luz e do ar além de servir eventualmente para defesa. No térreo, pequenas saletas sem janelas onde eram “guardados” os escravos que ficavam amontoados durante a noite.

seteiras

Sobrado de José Rufino e Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição

O Teatro Minerva foi inaugurado em 1859, com o nome de Teatro Recreio Dramático foi uma iniciativa pioneira que precedeu em trinta anos o teatro da Capital. Funcionava regularmente com representações dos conjuntos amadores locais. Dizem que mesmo companhias famosas que se exibiam em Recife, iam até Areia.
Quando lá estivemos, vários moradores locais estavam aguardando um professor, teriam aula de um curso profissionalizante neste dia.

Teatro Minerva

Areia foi uma das primeiras cidades do Brasil a decretar a abolição da escravatura, antes mesmo da lei ser assinada pela Princesa Isabel. Também foi a primeira cidade da Paraíba a usar o jornal impresso.
Possui 117 engenhos. Teve o primeiro Teatro da Paraíba - Teatro Minerva (anteriormente chamado de Recreio Dramático) e possui uma Banda Filarmônica Centenária, um ano a menos que a cidade. Foi eleita Patrimônio Histórico Nacional, em 2005, pelo IPHAN. Foi palco também de capítulos importantes de nossa história no século XIX, como a Revolução Pernambucana e a Confederação do Equador.
Tudo isso acontecendo neste pequenino pedacinho da Paraíba, que poucos tem o prazer de conhecer.
 Retornando agora para João Pessoa, descemos a serra ainda com um pouco de chuva. Isso já era lá pelas tantas da tarde e esquecemos de almoçar. Quando nos demos conta, na cidade nada tinha de restaurante aberto. O jeito foi pegar a estrada mesmo. Paramos na estrada em uma das tantas pamonharia existentes nos dois lados de acostamento. Uma pamonha, um café! Estávamos salvos.
 descida da serra

Na capital paraibana passeamos no Centro Histórico, revisitei o Conjunto Franciscano que mais do que belo e caminhamos, caminhamos e caminhamos bastante. Foi um bom passeio. Adoro esta cidade e este estado. Se não fosse gaúcha acho que poderia ser paraibana, uai!

Conjunto Franciscano, Cruzeiro esculpido em pedra e eu

eira e beira


Expressão popular: Sem eira e sem beira – Que encontramos no Conjunto Franciscano com nosso guia particular.

Significa pessoas sem bens, sem posses. Eira é um terreno de terra batida ou cimento onde grãos ficam ao ar livre para secar. Beira é a beirada da eira. Quando uma eira não tem beira, o vento leva os grãos e o proprietário fica sem nada. Na região nordeste este ditado tem o mesmo significado mas outra explicação. Dizem que antigamente as casas das pessoas ricas tinham um telhado triplo: a eira, a beira e a tribeira como era chamada a parte mais alta do telhado. As pessoas mais pobres não tinham condições de fazer este telhado , então construíam somente a tribeira ficando assim "sem eira nem beira".


eu na torre do sino

centro histórico de João Pessoa


Passamos um tempo na praia porque ninguém é de ferro e a chuva finalmente nos abandonou.
Ai, ai... Pena que acaba... mas tem mais por vir! Não tem?


João Pessoa

vendedores na praia - tinha mais vendedores que banhistas